terça-feira, 4 de setembro de 2012

Não era amor...

"Se era amor? Não era. Era outra coisa. Restou uma dor profunda, mas poética. Estou cega, ou quase isso: tenho uma visão embaraçada do que aconteceu. É algo que estimula minha autocomiseração. Uma inexistência que machucava, mas ninguém morreu. É um velório sem defunto. Eu era daquele homem, ele era meu, e não era amor, então era o que? Dizem que as pessoas se apaixonam pela sensação de estar amando, e não pelo amado. É uma possibilidade. Eu estava feliz, eu estava no compasso dos dias e dos fatos. Eu estava plena e estava convicta. Estava tranqüila e estava sem planos. Estava bem sintonizada. E de uma dia para o outro estava sozinha, estava antiga, escrava, pequena. Parece o final de um amor, mas não era amor. Era algo recém-nascido em mim, ainda não batizado. E quando acabou, foi como se todas as janelas tivessem se fechado às três da tarde num dia de sol. Foi como se a praia ficasse vazia. Foi como um programa de televisão que sai do ar e ninguém desliga o aparelho, fica ali o barulho a madrugada inteira, o chiado, a falta de imagem, uma luz incômoda no escuro. Foi como estar isolada num país asiático, onde ninguém fala sua língua, onde ninguém o enxerga. Nunca me senti tão desamparada no meu desconhecimento. Quem pode explicar o que me acontece dentro? Eu tenho que responder às minhas próprias perguntas. Eu tenho que ser serena para me aplacar minha própria demência. E tenho que ser discreta para me receber em confiança. E tenho ser lógica para entender minha própria confusão. Ser ao mesmo tempo o veneno e o antídoto. Se não era amor, Lopes, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não sabe se vai ser antes ou depois de se chocar com o solo. Eu bati a 200Km/h e estou voltando a pé pra casa, avariada. Eu sei, não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Talvez seja este o ponto. Talvez eu não seja adulta suficiente para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, Lopes, de acreditar em contos de fadas, de achar que a gente manda no que sente e que bastaria apertar o botão e as luzes apagariam e eu retornaria minha vida satisfatória, sem seqüelas, sem registro de ocorrência? Eu nunca amei aquele cara, Lopes. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada. Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, era sacanagem. Não era amor, eram dois travessos. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor." Martha Medeiros - Divã

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Pensamento do Dia

Quando você não tem mais forças pra lutar, é mais fácil desistir. E desistir não é tão humilhante quando você tem a consciência de que empenhou todas as suas forças e fez tudo o que pôde.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Caio Fernando Abreu

Nem sei mesmo se todas essas frases são dele, mas achei-as interessantes, então lá vai:

* Temos de ver todas as cicatrizes como algo belo. Combinado? Este vai ser o nosso segredo. Porque, acredite em mim, uma cicatriz não se forma num morto. Uma cicatriz significa: "Eu sobrevivi!".

* Você sempre viveu sem ele, e continuará vivendo. Me poupe do drama.

* Mas de que adianta sair para festa e voltar para casa sempre com o coração vázio? Se um dia voltar para casa com o coração aquecido e com um amor desses que valham à pena, aí sim recomendarei festas.

* Tinha esquecido do perigo que é colocar o seu coração nas mãos do outro e dizer: toma, faz o que quiser.

* Tem horas que eu me perco sem você aqui, aí eu lembro: tá tão longe de mim. E o meu coração grita: mas tá aqui dentro.

* Existe tanta coisa mais importante nessa vida que sofrer por amor.

* Gosto muito do meu mundinho. Ele é cheio de surpresas, palavras soltas e cores misturadas. Às vezes tem um céu azul; outras, tempestade. Lá dentro cabem sonhos de todos os tamanhos. Mas não cabe muita gente. Todas as pessoas que estão dentro dele não estão por acaso. São necessárias.

* Se não brilha mais, não insista. Lâmpada queimada não se arruma. Se troca por outra.

* Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas as coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas...

*Sofrer doí, doí e não é pouco. Mas faz um bem danado depois que passa.

* Você é anormal menina. Eita, o que ele fazia de tão especial? Tipo, sei que não é fácil esquecer, mas gostar às vezes é estranho.

Não é raro, tropeço e caio. Às vezes, tombo feio de ralar o coração. Claro que dói, mas tem uma coisa: a minha fé continua em pé. Tudo que é verdadeiro, volta.

* -Só sei que nós nos amamos muito…
-Porque você está usando o verbo no presente? Você ainda me ama?
-Não, eu falei no passado! Curioso né? É a mesma conjugação.
-Que língua doida! Quer dizer que NÓS estamos condenados a amar para sempre?
...-E não é o que acontece? Digo, nosso amor nunca acaba, o que acaba são as relações…
-Pensar assim me assusta.
-Por que? Você acha isso ruim?
-É que nessas coisas de amor eu sempre dôo demais…
-Você usou o verbo ‘doer’ ou ‘doar’?
-[Pausa] Pois é, também dá no mesmo…

sábado, 9 de julho de 2011

Seja assim

Pode me comparar aos outros, mas, por favor, só no que eu for melhor. Não me lembre de que sou ruim em um monte de coisas. Se for pro meu bem, apenas me ajude a melhorar. Não diga que não me ama, fique calado se esse for o caso. Se gosta de mim, grite aos quatro ventos. Gosto de demonstrações. Gosto de abraços, beijos e carícias. Gosto do improvável, do inesperado. Chegue de surpresa. Mas que seja uma surpresa agradável. Faça da minha vida um arco-íris sem que eu tenha que passar pela tempestade antes. Que essa “tempestade” seja somente uma neblina, que não me afogue nem estrague minha escova. Não gosto de ser contrariada. Mas pode me contrariar. Na verdade, às vezes, sinto falta de perceber que alguém é capaz de me colocar nos eixos. Não precisa me obedecer nem desobedecer em tudo. Saiba dosar suas atitudes. Não me encante com mentiras nem me desiluda com verdades. Conte-me mentiras, mas desminta-as antes que eu descubra a verdade. Porque, sim, eu sempre descubro. Descubro olhando em teus olhos. Cuide de mim como se eu fosse uma criança, mas nunca esqueça que já sou uma mulher de cabeça formada. Me desmonte, me reinvente. Não me deixe ser a mesma para sempre. Deixe em mim algo seu. Alguma mania, alguma lembrança. Chegue e vá, mas não permita que eu seja a mesma que era antes de você aparecer. Essa é a graça da minha vida: no final, sou um quebra-cabeça mal montado de todas as pessoas que já passaram por mim. Passe-me uma sensação de segurança, por mais que você mesmo não se sinta seguro. Embale-me em seus braços e jure que nunca me vai acontecer algo ruim. Estará mentindo, eu sei, mas faça-o, estou pedindo. Nunca faça tudo o que eu pedir. Acredite em tudo o que digo. Duvide das minhas histórias. Desafie meus medos, excite minha coragem, esclareça minhas dúvidas, mime minha alegria. Esteja ao meu lado, mesmo quando eu não merecer. Demonstre solidariedade à minha dor, ainda que ela pareça uma piada a você. Acredite, quando eu choro, é porque está doendo. Conheça meus defeitos. Conserte-os. Estimule minhas qualidades. Faça-as tão grandes a ponto de meus defeitos se tornarem toleráveis. Mas, a mim, não tolere, AME!

08/07/11

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Viva um grande amor!

Não adianta procurar: seu grande amor, certamente, está onde você menos imagina. Pode ser aquele velho amigo de infância ou aquele idiota que vive enchendo seu saco! O fato é que o amor surpreende, e, talvez por isso, ficamos receosos de vivê-lo.
Mas dê-se uma chance! Entregue-se sem medo de sofrer. Ame sem medo de não ser correspondido. Viva cada segundo sem pensar em um possível fim!
Acredite! O amor também foi feito pra você, não apenas pro cinema. Há alguém capaz de acelerar seu coração, deixar suas pernas bambas e sua boca sem palavras. O amor existe!
Não se prive de um grande amor por medo de sofrer. Se você acha que pode não dar certo, é porque ainda há a possibilidade de tudo correr bem! Não descarte essa chance de ser feliz.
E, se não der certo, levante-se, aprenda com os erros, reestruture-se e siga em frente. Não cometa os mesmos erros, mas se dê o luxo de cometer outros tantos. Arrisque-se mais uma vez, apaixone-se!
Experimente um amor eterno, mesmo que não seja para sempre.. ♥

(22/04/2009)

sábado, 4 de junho de 2011

*-*

Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas ... permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sozinha, só volte quando eu chamar, mas não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada (então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.

(Martha Medeiros)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A motivação e a tortura

Uma das grandes sacadas motivacionais que já presenciei na vida aconteceu durante uma reunião de gerentes de vendas. O pessoal se reunia uma vez por mês, como ocorre em muitas empresas, para discutir os resultados do mês anterior e falar dos planos pro mês seguinte.
Essas reuniões seguiam um padrão bem definido: o diretor financeiro apresentava os números, o diretor de marketing falava das promoções, o diretor de RH incentivava o espírito de equipe. Em seguida, cada gerente regional de vendas apresentava seus números do mês que havia terminado e explicava o que havia acontecido - de bom e de ruim.
O ruim vinha superando o bom. Por três meses consecutivos, a grande maioria dos gerentes não havia atingido os objetivos. Ou seja, a cantilena nas reuniões não estava resolvendo nada.
Então o diretor de vendas decidiu tomar uma providência. Chegou e disse:
- Pessoal, ficamos abaixo da meta pelo terceiro mês. Não sei mais o que dizer a vocês. Por isso, vamos aproveitar o tempo para melhorar nossa cultura. Vamos fazer uma leitura conjunta de Os Lusíadas, de Luís Camões.
Acho que todo mundo já ouviu falar de Os Lusíadas, o épico poema português. Mas não conheço ninguém que tenha tido paciência de ler a obra inteirinha, até porque é absolutamente ininteligível para seres normais como nós.
Os Lusíadas têm 1.102 estrofes, cada uma com oito linhas, o que dá, se não me falha a conta, 8.862 linhas. Linhas compridas, cheias de palavras que não são mais usadas desde 1900 e Machado de Assis.
Mas, se o diretor mandou, fazer o quê? Quinze gerentes, em voz alta, começaram a ler. Depois de uma hora, haviam chegado por perto da linha número setecentos. Faltavam ainda mais de oito mil linhas!
Foi nesse momento que o diretos de vendas disse:
- Ok, por hoje está ótimo. Continuamos a leitura na reunião do mês que vem.
No mês seguinte, como que por milagre, as vendas foram 12% superiores à meta. A área de vendas é assim. Se a motivação não funciona, a tortura sempre resolve.

(Max Gehringer)